Gonçalo Pavanello

DESIGNER GRÁFICO - ARTISTA PLÁSTICO

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Em Paris, um Louvre no lobby do hotel

SETH SHERWOOD
New York Times Syndicate

Enquanto o entardecer de outono caía sobre o distrito de Montmartre, grupos elegantes subiam a Avenue Junot para a abertura de uma exposição de fotografia chamada "Estrada Perdida".

O hall de entrada do Hotel Le Six tem exposições temporárias


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Antonella Di Pietro, uma alta executiva da grife Kenzo, entrou com um séquito vestido de preto e foi recebida pela organizadora da exposição, a famosa designer de interiores e patrona das artes, Morgane Rousseau. Bebendo vinho no bar livre, o romancista Basile Panurgias e uma amiga refletiam sobre as fotos granuladas em preto-e-branco de uma Tóquio noturna, de autoria da fotógrafa Chantal Stoman.

No andar de cima, outros visitantes assistiam vídeos experimentais de mãos desprendidas do corpo passando objetos do lar, criados pelo artista Jean-Claude Ruggirello.

A cena lembrava as muitas inaugurações que acontecem nas galerias de Paris a cada semana. Mas esta não era uma galeria. Era o Hôtel Particulier Montmartre, um hotel butique com dois anos, situado em uma casa do século 19. Em algum lugar nas cinco suítes, os hóspedes supostamente realizavam atividades não relacionadas com as artes - deitavam nas camas, tomavam banho e assistiam televisão.

Apesar de Paris há muito ser celebrada tanto pela sua cena de artes quanto pelos lugares elegantes onde se hospedar, os dois mundos apenas ocasionalmente se encontram. Mas os últimos dois anos viram um notável cruzamento de criatividade e hospitalidade, levando a uma série de novos hotéis que tornam indistinta a divisão entre espaço de exposição e local onde dormir.

Alguns, como o de alto design Le Six, estão usando seus lobbies para receber exposições rotativas. Outros, como o majestoso Beaux-Arts Hôtel Banke, estão decorando suas áreas comuns com exposições permanentes. (A partir de 2010, o hotel planeja abrigar uma coleção digna de Indiana Jones de arte antiga e antiguidades do Egito, da América Latina pré-colombiana e outras civilizações.) Outros têm contratado artistas de renome para criar a decoração de seus quartos.

No Hôtel Particulier Montmartre, de propriedade de Rousseau, você mal consegue abrir sua mala sem dar de cara com um artista contemporâneo de ponta. Chame o elevador no lobby e você se verá ao lado de uma pintura altamente fragmentada, cheia de cores, de uma mulher tipo Medusa, de autoria de Robert Combas.

Entre em uma suíte chamada "Vitrine" e você encontrará um conceito interativo -um mostruário onde os hóspedes deixam objetos pessoais em exibição- imaginado por Philippe Mayaux, um vencedor do prestigioso prêmio Marcel Duchamp.

Até mesmo os jardins magistralmente cuidados são obras de um mestre: Louis Benech, que reformou o Jardin des Tuileries.

Muitos dos novos hotéis de arte estão surgindo na área do Boulevard Montparnasse, na Margem Esquerda. Durante os anos 20, era possível encontrar Picasso bebendo no Café Select, Ferdinand Leger pintando no complexo de estúdios La Ruche ou Man Ray escondido no Hôtel Istria. Hoje, as pequenas ruas ao redor da Place Pablo Picasso, famosa pela estátua de Balzac de Rodin, escondem novos santuários da arte como o Hôtel des Académies et des Arts.

Seu pedigree é impressionante. Segundo Henry Mona, o diretor do hotel, o prédio já abrigou o estúdio do célebre pintor japonês Tsuguharu Foujita, um amigo e colega de Picasso e Man Ray, e a rua também já foi lar de Modigliani.

Prestando tributo ao espírito da vanguarda, o hotel contratou o artista urbano francês Jerome Mesnager, que ganhou fama pintando seus característicos "corpos brancos" -formas humanóides musculosas- nas paredes de cidades de Togo a Tóquio, inclusive na Grande Muralha da China e na Praça Vermelha, em Moscou.

Mesnager instalou as criaturas espectrais em cada um dos 20 quartos do hotel butique, na fachada do prédio, no pátio, na parede do lobby (repleto de livros sobre o auge artístico de Montparnasse) e até mesmo no poço do elevador (visível pela parede de vidro do elevador).

"Eles são os hóspedes permanentes do hotel", brincou Mona.

Bibliófilos, por sua vez, tendem a dobrar a esquina até o Apostrophe Hôtel de tema literário, que convocou artistas para ajudá-lo a prestar homenagem ao rico passado de Montparnasse como paraíso de escritores como Ernest Hemingway e Henry Miller, como explicou a proprietária, Isabelle Lozano.

Para encontrá-lo, procure pela fachada pintada com galhos pretos sombrios e folhas escuras. Eles são obra de Catherine Feff, uma artista francesa famosa por cobrir monumentos parisienses, como a Igreja de Madalena e o Arco do Triunfo, com enormes telas exibindo excelentes cenas trompe l'oeil.

No interior, a artista e fotógrafa Sandrine Alouf (ela prefere o termo "atmosferista") deu um toque divertido e kitsch aos 16 quartos do hotel, cada um com uma decoração exclusiva que corresponde ao seu tema.

No Hôtel Particulier Montmartre, de propriedade de Rousseau, você mal consegue abrir sua mala sem dar de cara com um artista contemporâneo de ponta


O quarto "Escrita Urbana", por exemplo, é um tributo ao grafite e contém um vasto painel retratando personagens pintados com spray e tags estilo metrô -uma transposição de uma foto de Alouf tirada em Nova York. Em um quarto chamado "Leitura", uma foto das páginas de um livro dobrado foi ampliada na decoração abstrata do tamanho da parede, sugerindo as espiras de uma concha do mar.

"Nós queríamos criar algo literário, mas não intelectual demais", disse Lozano. "Não é preciso Ph.D. para dormir aqui." Mas em breve poderá ser preciso um best seller para poder se enquadrar. Autores como Gayle Forman e Erri de Luca já se hospedaram aqui.

Uma encomenda ainda mais extravagante para Alouf veio do Five Hôtel, que no ano passado decidiu construir uma suíte de luxo dedicada a uma forma particularmente íntima de arte - a arte do amor.

"Nós pedimos a ela: 'Crie o Sétimo Céu'", disse Karine Tournois, a diretora do hotel. "Um quarto sobre sensações, escapadas, aventuras, que seja um pouco erótico."

O resultado foi o "One by the Five", um apartamento de aproximadamente 45 metros quadrados em um prédio do outro lado da rua tranquila, em frente ao prédio principal do hotel, no 5º Arrondissement. Sua principal atração é o quarto, naturalmente. Em algum ponto entre impressionante e kitsch, todo o teto e carpete do grande quarto possuem imagens de céu azul e pequenas nuvens. Entre eles, a enorme cama branca parece flutuar.

O ambiente romântico pode ser acentuado usado o iPod pré-programado do quarto, que vem repleto de canções de Edith Piaf, entre outros, e controles para as cores e intensidade das minúsculas luzes, como estrelas, implantadas no teto e no piso. O quarto também conta com uma TV de tela plana. O entretenimento é por cortesia de uma pequena Webcam instalada bem acima dela.

"Em outros hotéis, você pode se admirar em espelhos enquanto faz amor", explicou Tournois. "Aqui você pode se assistir em uma tela grande."

Para colocar você no clima, o apartamento contém um toucador revestido de veludo preto, repleto de perfumes caros (Chanel, Lancôme, Givenchy), uma pequena sala de veludo vermelho contendo pista de dança, uma sala contendo fotos imensas de partes do corpo envoltas em lençóis e um bar livre com receita para um coquetel exclusivo, escrita no espelho: "Elixir d'Amour".

A julgar pelos comentários efusivos no livro de visitas, Alouf foi bem-sucedida em seu tributo criativo ao eros.

"Uau! O quarto perfeito para lua-de-mel!" escreveu um casal identificado como Michael e Mikaela. "Nós dormimos no Céu e festejamos no Inferno!"

Se você for

Hôtel Particulier Montmartre, 23, avenue Junot, 75018; (33-1)5341-8140; hotel-particulier-montmartre.com; quartos duplos custavam em dezembro a partir de 390 euros, ou cerca de US$ 565, com o euro cotado a US$ 1,45.

Le Six, 14, rue Stanislas, 75006; (33-1)4222-0075; hotel-le-six.com; quartos duplos a partir de 225 euros.

Hôtel Banke, 20, rue La Fayette, 75009; (33-1)5533-2222; derbyhotels.com; quartos duplos a partir de 225 euros.

Hôtel des Académies et des Arts, 15, rue de la Grande Chaumiere, 75006; (33-1)4326-6644; hotel-des-academies.com; quartos duplos a partir de 189 euros.

Apostrophe Hôtel, 3, rue de Chevreuse, 75006; (33-1)5654-3131; apostrophe-hotel.com; quartos duplos a partir de 162 euros.

Five Hôtel, 3, Rue Flatters, 75005; (33-1)4331-7421; thefivehotel.com; quartos duplos a partir de 129 euros. A suíte "One by the Five" (onebythefive.com) custa 960 euros.

Tradução: George El Khouri Andolfato

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Escultura de Giacometti é a obra mais cara do mundo

The New York Times

por Clara Silva, Publicado em 04 de Fevereiro de 2010

A escultura de bronze "L´Homme Qui Marche", do artista suíço Alberto Giacometti, tornou-se a peça de arte mais cara do mundo. A peça foi arrematada ontem à noite por 74 milhões de euros na Sotheby's, em Londres, por um comprador anônimo

O quadro de Picasso "Rapaz com Cachimbo", leiloado em 2004 pela Sotheby's de Nova Iorque, deixou de ser a obra de arte mais cara do mundo. Na noite passada, um anónimo comprou a obra-prima do suíço Alberto Giacometti, "L'Homme Qui Marche", por um preço recorde de 74 milhões de euros.
A escultura de bronze de 1961 foi uma encomenda para a Chase Manhattan Plaza de Nova Iorque. Giacometti criou várias peças para este projecto de arte pública, mas acabaria por abandoná-lo por ser demasiado demorado.
Há mais de 20 anos que não aparecia no mercado uma peça do escultor de tão grandes dimensões. A obra "L'Homme Qui Marche" tem 1,83 metros e pertencia ao Commerzbank alemão.
No mesmo leilão, um quadro de Gustav Klimt também atingiu um preço recorde para uma paisagem deste artista.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Artistas da próxima Bienal de São Paulo também destacam violência por Silas Martí, Folha de São Paulo

janeiro 27, 2010

Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de São Paulo em 27 de janeiro de 2010.

Não é a primeira vez que Steve McQueen usa a violência como ponto de partida para uma obra. Em seu filme "Hunger", premiado há dois anos em Cannes, dramatizou a greve de fome de Bobby Sands, ativista do IRA, o Exército Republicano Irlandês, que morreu em protesto contra o governo de Margaret Thatcher nos anos 80.

Sem muitas palavras e com cenas que evocam o expressionismo agudo de um Francis Bacon, causa desconforto. Põe a miséria humana, o corpo que definha, no centro da ação.

Ainda inédito no Brasil, o longa pode ser exibido na próxima Bienal de São Paulo, junto de uma obra que McQueen ainda está produzindo para esta edição da mostra paulistana, que começa em setembro.
Violência e guerra também aparecem na obra de outros artistas já confirmados na Bienal de 2010. Harum Farocki, videoartista alemão, está de olho nos traumas de guerra dos soldados norte-americanos em combate no Oriente Médio.

José Antonio Vega Macotela expõe o sofrimento atrás das grades de um presídio na Cidade do México, trocando favores do lado de fora da prisão por obras feitas pelos detentos trancados em suas celas.
Na dimensão econômica do conflito, a cineasta belga Chantal Akerman vai explorar as origens da crise imobiliária que descambou para o colapso financeiro a partir do retrato de uma comunidade norte-americana, a parte pelo todo, que tenta entender como um lado desperta a ira do outro.